Who am I- Com a palavra: nosso CEO Giancarlo
A INFÂNCIA LIVRE E CHEIA DE TRADIÇÕES EM UM PARAÍSO CULTURAL
Sou o irmão mais velho de 4 pestinhas. Fomos criados em um paraíso no interior de Goiás por 3 super-heroínas que vocês conhecerão ao longo deste texto que já me faz chorar no primeiro parágrafo.
Graças à nossa criação na roça e no interior, tive a melhor infância que minha criatividade de anos de RPG poderia desenhar:
Morávamos na beira do rio, numa casa sem muros, mas sempre protegida pelos tomba-lata Bagui e Junin, liderados por Leão, um temido pastor alemão adotado pela Vó Divina após um atropelamento brutal na frente da escola onde ela era merendeira.
Saíamos da escola pro rio e de lá para “pracinha da vila”, onde as dezenas de crianças se reuniam longe dos olhares vigilantes dos pais para provocar quero-quero e jogar “pique-pega-bicicleta”, que seriam então abolidos devido ao alto índice de brigas e ossos quebrados. Minha mãe mudara para o exterior para sustentar a família, mas tinha todo empenho da Vó Divina e Vó Luzia para se atualizar das peripécias dos “menino da vila”.
Bichos, natureza e amigos à parte, a combinação da economia e cultura local nos levava a interagir e cuidar do legado local, como as Cavalhadas de Pirenópolis, Patrimônio Cultural Imaterial que acontece todos os anos desde 1819 e envolve a maioria da comunidade de 25 mil pessoas em meses de muito comércio, festas e celebrações culturais e religiosas.
COMO APRENDI A CRIAR E VENDER EM FAMÍLIA
Nesses eventos, vó Divina vendia pamonha e cerveja enquanto eu e meus irmãos vendíamos geladinhos caseiros devido ao calor da época do ano. Fazíamos de tudo para vender rápido para curtir a festa e gastar com traques e barraquinhas de coisas do Paraguai. Nós adorávamos inventar receita de geladinho diferente e certa vez criamos um campeão de vendas inusitado. O caju era barato, abundante e congelado pro ano todo pela Vó Luzia, mas nunca vendia muito devido à sua cor majoritariamente sem graça.
A solução saudável e de alto ROI foi criar um suco de caju “sexy” com uma pequena dose de suco concentrado de beterraba! Vó Divina era uma baita marqueteira e nem sabia o que era marketing quando fez aquele suco de caju “Rosa-Pitaya”.
PORQUÊ E COMO VIREI “GAROTO DE PROGRAMA”?
Após vender latinha com meus irmãos, fazer pamonha com minha vó, transformar “pau podre” em móveis rústicos com meu pai e filósofo favorito, finalmente consegui o tão sonhado emprego de carteira assinada em uma indústria de cosméticos que os locais chamavam “fábrica de sabão”. Apesar de ser office boy, criei um sistema de gerenciamento em Excel por preguiça de fechar estoque e calcular carga horária de +10 funcionárias no papel. Obrigado preguiça.
Ali descobri estar programando em VBA sem saber o que era programação e decidi então estudar sozinho para o tão temido vestibular de Ciências da Computação na UFG. Minha maior vantagem aqui foi não ter nenhuma pressão familiar, pois se eu passasse, seria o primeiro da família a ingressar em uma universidade.
Por ser um dos alunos mais velhos da turma e primeiro da família, levei o curso muito a sério, me envolvendo em tudo que podia. Dei mais de 1000 horas de monitoria voluntária em 4 disciplinas, fiz estágios, dei palestras, fui representante dos estudantes e ganhei uma bolsa de estudos.
Apesar das premiações e reconhecimentos, o que mais me ensinou logo no começo do curso foi um projeto de extensão de 3 meses para idosos com pouca ou nenhuma experiência em informática. Além das novas amizades e tardes de bolo com proza e café, todos concluíam escrevendo suas receitas de bolo no WORD e as contas da casa no EXCEL.
Eu acabava de chegar na universidade triste por “ser velho” com 21 e ali aprendi que podemos fazer o que quisermos em qualquer idade sem motivo para pressa. Nesse projeto, descobri meu lado professor motivacional e nunca mais o deixei morrer.
MUNDO AFORA COM INGLÊS DE VIDEOGAME E SIMULADOS
Os primeiros meses foram um terror com trilha sonora do sotaque britânico. O fato de não saber inglês me forçava a gravar as aulas para escutar em casa novamente. Eu não lembro quantas vezes pensei em desistir e voltar para o Brasil. Minha mãe, que estudou só até a terceira série e fala quatro idiomas foi minha maior inspiração e apoiadora nessa fase crucial da minha vida. Ali na Goldsmiths, tive acesso a um mundo novo, repleto de novas culturas, aprendizados e oportunidades como a que segue.
Como uma criança disléxica, tive minha primeira hora ininterrupta de leitura em um estágio no Hackerspace de Londres enquanto progravama e testava a interface da CosmosVR em linguagem C com óculos de realidade virtual que davam torcicolos e náuseas como qualquer outra experiência VR em 2013. Entre uma náusea e outra, era como uma tela 1000” livre das distrações do ambiente real. Aquilo me deu um estalo que seria um dos mais importantes da minha vida.
Quando a CosmosVR quebrou e meu intercâmbio findava, senti uma obrigação pessoal e acadêmica de criar algo que combinasse as duas coisas para o meu TCC aqui no Brasil. Assim nasceu CalclexVR, o primeiro jogo de Realidade Virtual para Disléxicos e Discalcúlicos do mundo, publicado e apresentado no maior evento científico do assunto (IEEEVR) graças a uma vaquinha de professores, amigos e empresários regionais.
Em paralelo, fundei com meu irmão e calouro Gabriel, a Arqtech realidade virtual, nossa primeira startup que foi destaque regional ao ficar em 2º lugar na Maratona de Negócios da Campus Party em São Paulo. Quebramos em dois anos após inúmeras tentativas e adaptar realidade virtual e aumentada para o mercado imobiliário em pleno 2015.
SUCESSO, SÍNDROME DO IMPOSTOR E A BUSCA PELO PROPÓSITO
Após me formar, trabalhei em grandes empresas como a Experian e fui convidado para o maior programa de transformação digital no maior banco da América Latina(Itaú). Ali embarquei de cabeça num acelerado programa de carreira, que apesar de me fazer aprender dez anos em dois, me fez deslisar na curva e bater de frente com o muro da síndrome do impostor.
O chapéu de “gênio” que era jogado com o para-quedas da Mckinsey e ganhava mais de 20k por mês tinha um peso estranho naquele ambiente competitivo. Eu falava com sócios e diretores periodicamente para aprender como a transformar estratégia em ação de pessoas “de baixo”. Após liderar a criação do primeiro ambiente em nuvem do banco, fui promovido para coordenar uma equipe de pessoas mais experientes e aptas que eu nos times de engenharia mobile e PJ. Sentiu a crise?
Apesar de a aptidão natural para liderar pessoas “de baixo” com a estratégia dos “de cima”, eu sentia falta de estudar e criar algo novo além de PPT. Passei a sondar novos rumos, começando pelos melhores engenheiros do time que também estavam desmotivados, fazendo reuniões mensais no meu apartamento onde eu cozinhava enquanto eles fugiam das esposas para descontrair, jogar fifa e falar de tecnologia e startups.
Após desistir de uma bolsa de PhD por motivos que colocaram meus valores em xeque, tive minha demissão recusada com uma passagem para o vale do silício. Eu também pensava que o objetivo era de descobrir e ensinar o segredo dos unicórnios com a área de Engenharia Mobile. Mas meu gestor era tão humano que eu tenho certeza que ele sabia o que aconteceria se eu fosse borbulhando para a meca das startups. Obrigado Marcelo.
Apesar do safari repleto de eventos, workshops e visitas, foi numa partida de vôlei que conheci os fundadores da CAMEO. Como que programado pelo algoritmo do acaso, me ofereci para juntar a um trio incompleto. Após aquela partida e a conversa sobre um mercado inexplorado no Brasil em 2018, decidi que eu pediria demissão e voltaria para minha cidade natal para um “retiro criativo”.
Com a CAMEO na mochila das ideias e a 1RECADO na dos sonhos, me “aposentei” como gestor, comprei um lote para pôr a mão na terra, voltei a correr, sobrevivi à crise do impostor quando voltei a estudar e programar. Comecei pelo protótipo que me deu de presente uma L.E.R nos primeiros 60 dias de tanta empolgação e solitude.
Sabendo que eu não construiria nada sozinho, apresentei o plano de negócios para meus amigos de infância, pois sabia que com eles teria o apoio incondicional de quem sabia pelo que eu tava passando. Sem seguida, mostrei o protótipo para os amigos mais NERDS da faculdade e do Itaú para formamos o primeiro time com 4 sócios.
Trabalhamos remotamente por 3 meses, mudamos para o mesmo apto em 6, apresentamos nosso MVP no WebSummit 2019 em Lisboa no 9.º, ao fim do primeiro ano (dezembro de 2019) tínhamos os primeiros 3 concorrentes e alcançamos o break-even em 24 meses com o primeiro funcionário e amigo de infância (André) morando em uma barraca na sala.
Você pode não acreditar, mas ainda moramos no mesmo apartamento com todos os dentes e cabelos graças a um time de 10 pessoas que cuidam de centenas de artistas e empresas, milhares de clientes e recados para mais de 20 países sem nenhum tubarão ou investidor. Tudo isso com dinheiro de clientes felizes e agiotas quitados.
Por fim, sou a pessoa mais abençoada e bem acompanhada que eu conheço.
Obrigado por chegar até aqui.